A Ilha de Deus é cheia de personalidades. Pessoas que tem um recado a dar, uma história pra contar, mesmo que seja de pescador. Uma delas foi José Alves da Silva, o homegeado dessa edição do Brechó. Nascido em 14 de março de 1943, Zé Porquinho, como ficou conhecido na comunidade, era um homem bem humorado. Pai de doze filhos, ele ganhava a vida como pescador. Ganhava a vida não. Ele era um profissional da pesca. Dona Nicinha, a patroa, hoje já perdeu as contas de quantas histórias de pescador ouviu o falecido marido contar. A jovem senhora, de 67 anos e sorriso fácil, lembra-se de uma apenas. “Essa eu lembro por que é verdade. Ninguém me contou. Eu mesma vi. Meu marido pegou um tubarão. Trouxe aqui pra casa e pendurou no terraço. Dava pra ver que era muito maior do que eu. E bota maior nisso”. Conta dona Nicinha, que os vizinhos não acreditavam que Zé Porquinho havia mesmo pescado aquele tubarão. “Todos faziam graça. Perguntavam: “Ei, Zé porquinho cade o peixe que o navio te deu?”.
Homem forte e cheio de disposição, Zé Porquinho levantou as paredes da sede do Caranguejo Uçá, que, inicialmente, foi construída para ser a casa do Pescador, onde funcionaria um frigorífico para conservar o pescado. Valdinéia Alves, de 29 anos, conhecida como Neinha, é uma das filhas desse famoso Zé. Ela lembra com carinho das vezes em que via o pai apelidando os amigos e vizinhos. Paturi e Tartaruga Touché são só dois nomes de uma lista de dezenas usados por Zé Porquinho para fazer graça com os amigos. Também conhecido por tomar as dores dos outros, ele ficava aborrecido quando via alguém bater numa criança ou machucando um animal. Entre suas habilidades também estava a de eletricista. Era ele quem dava jeito na fiação da casa quando aparecia algum problema. “Até o aparelho de som ele desmontava. Ele não sabia ler, mas sabia de tudo um pouco”, relembra Dona Nicinha.
Além de pescador, pedreiro, e eletricista, Zé porquinho ficou famoso na Ilha de Deus como cantador de coco. Seus versos embalavam os devotos de São Pedro, em dia de procissão por hora da festa do santo, nos meses de junho. Rei do improviso, Zé Porquinho não deixou suas letras escritas. Só o ritmo e alegria de suas canções permanecem na memória do povo, firmes como as paredes das construções que ajudou a erguer.
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