10 julho 2008

MOVIMENTO DOS PESCADORES, UM MISTO DE INDIGNAÇÃO E RESISTÊNCIA!









O processo que originou a Barquiata se deu após 5 messes de observação e de acompanhamento/monitoramento feito por Pescadores da Ilha de Deus durante o ano 2007, tendo em vista a poluição química e sólida e o assoreamento dos rios e canais, a cerca e as margens dos rios que correm e compõem a vida na cidade do Recife. Esta observação ocorreu sempre mesclada pelo medo de que se repetisse o quadro registrado há mais de 25 anos atrás, precisamente 1983, quando toda vida ambiental dos rios, mangues e famílias de pescadores do Estado de Pernambuco sofreram impactos irreversíveis até hoje, de modo que muitas das espécies simplesmente sumiram do cardápio da exótica culinária, interferindo na identidade e na degustação de quem vivência, aprecia e sobrevive das iguarias do litoral da Capital Pernambucana.
Esse sentimento evidenciou-se durante todo o processo de organização da barquiata, nos momentos de troca com pescadores das diversas comunidades ribeirinhas que compõem a cidade do Recife e foi reafirmado pela inserção de outras comunidades que se identificaram no sofrimento e na resistência e aderiram a esta reivindicação que resultou na intervenção denominada Barquiata, no dia 20 de agosto de 2007 e conseqüentemente, no decorrer da peleja, criou-se o MOPEPE – Movimento dos Pescadores do Estado de Pernambuco.
A partir da Barquiata abriu-se um campo de discussão com o atual Governo do estado de Pernambuco, na ocasião representado pela Secretaria de Recursos hídricos, que ficou na incumbência de agregar outras secretarias e providenciar a resolução das dificuldades apresentadas. Na seqüência foram convocadas e apresentaram-se a Secretaria da Juventude Emprego e Renda, a COMPESA, a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, o IPA, a SEAP e, na esfera municipal a EMLURB, e ainda o Instituto Oceanário por ser referência de estudos e pesquisas no estado.
Da mesma forma, em paralelo a este momento, o movimento dos pescadores buscou se fortalecer ainda mais, através de encontros e visitas nas respectivas comunidades de pescadores, assim como na identificação das entidades e representações legais dos profissionais da pesca e do desempenho do seu papel como representante. Dentre essas representações foi possível constatar que a grande maioria compromete e inviabiliza a organização e a supremacia, quando subestimam a inteligência e põe em risco a integridade física e moral dos pescadores, bem como do ambiente necessário e fundamental a sua existência.
Por outro lado essas visitas proporcionam reflexões e idéias inovadoras no anglo da continuidade das discussões e da elevação da auto estima, estimulando a criatividade pela certeza de que este movimento foi pensado e acontece pela determinação, insistência e resistência dos que anseiam mudança e prosperidade, com sua própria capacidade e potencial, os próprios pescadores. Como também propicia a oportunidade de conhecer representações comprometidas e dignas a integrar este universo.
Mesmo acompanhando ou tendo noticias da movimentação a respeito das intenções da discussão que propôs a eco 92, é possível perceber que após esta discussão foram criadas diversas instituições governamentais e não governamentais a ponto de se instituir anos depois o Ministério do Meio Ambiente e a SEAP – Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca a nível federal, na intenção da proteção ao equilíbrio do meio ambiente e do reconhecimento dos profissionais da pesca, entretanto, o descaso no nosso estado é visível e alarmante.
Essa condição nos leva a concordar com o atual ministro do meio ambiente, Sr. Carlos Minc, quando afirmou publicamente que a discussão ambiental em Pernambuco sempre foi tratada de forma irresponsável e caótica e, discordar do Senador Jarbas Vasconcelos que desesperadamente tentou defender a imagem política e ambiental de Pernambuco. Em sua fala o mesmo tentou subestimar a inteligência e o censo critico da sociedade pernambucana, acreditando ele que os esgotos do Palácio do Campo das Princesas, da sede da Prefeitura da Cidade do Recife e tantas outras instituições públicas, nas quais já foi representante, assim como de toda a cidade do Recife, que desembocam sem tratamento nos exuberantes e fundamentais rios e conseqüentemente nos mangues, maternidade natural de 60% de todas as espécies marinhas, não causam indignação a toda a sociedade.
Como se não bastasse a problemática até então apresentada, temos que nos deparar com a improbabilidade ética das ações promovidas por instituições representativas da pesca, que confundem, manipulam e ludibriam a classe que representam, no caso, os simples e honestos pescadores, bem como toda a sociedade, pelos seus próprios interesses pessoais e comerciais mercantilistas. Essa improbabilidade ética ficou registra durante a reunião do CONAPE - Conselho Nacional de Pesca - com a informação de que uma área de 160 hectares localizada a cerca de 25 km da praia de Boa Viagem em Recife-PE foi privatizada pela SEAP. Trata-se de uma área utilizada efetivamente pelos pescadores artesanais que ali desenvolvem diversas modalidades de pesca. Esta área é de interesse da Empresa AQUALIDER que prevê a implantação de 48 tanques para criação de peixe bejupirá com capacidade inicial de produzir 8 mil toneladas voltadas para o mercado internacional, local este que tornou-se proibido a navegação e a pesca pelos pescadores locais.
Por estas e outras razões é que se faz necessário o fortalecimento e a continuidade de movimentos que de fato priorizem a dignidade e a cidadania, não apenas de setores específicos, mas de toda a sociedade, uma vez que o meio ambiente é a própria condição de Ser Humano por natureza.
Movimento dos Pescadores do Estado de Pernambuco.
Edson Fly e Terezinha Filha (Ação Comunitária Caranguejo Uçá)

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