"Um lugar de exercício de direito da mulher, por meio do qual é possível fortalecer sua autoestima, contribuir para que ela se coloque no centro de sua própria vida e que busca motivar uma melhor condição de saúde para as mulheres", assim define Mayza Dias (pedagoga, terapêutica ginecológica e instrutora de autoproteção) sobre auto-cuidado feminista. O mutirão realizado através de uma parceria entre o Coletivo Flor do Mangue e a Ciranda de Mulheres aconteceu no dia 07 de Julho na sede da Ação Comunitária Caranguejo Uçá, na Ilha de Deus e contou com: escovação e cortes de cabelo, vaporização e cura do útero, reiki, massagem, thetahealing e um almoço coletivo.
"A solidariedade, reciprocidade e cuidado entre nós é arma que fragiliza e enfraquece o que nos aprisiona!"
Na opinião de Mayza, os maiores desafios de facilitar tais mutirões é lidar com a realidade de que as mulheres são destinadas ao papel social de cuidadoras, no qual não costumam se perceber enquanto merecedoras de cuidado. "Isso faz com que precisemos quebrar e subverter padrões socioeconômicos cruéis e injustos para com elas", enfatiza a terapeuta.
"O autocuidado é um ato político!"
O trabalho produtivo e reprodutivo diário,
delegados a nós, mulheres, desencadeiam processos sistêmicos de adoecimento
físico e mental concreto. Pensar o lugar da mulher negra e das
companheiras da Ilha de Deus, pescadoras, esse quadro se agrava ainda mais,
quando o trabalho na produção da pesca é invisibilizado, os
direitos não reconhecidos, quando a saúde se encontra o tempo inteiro ameaçada por
falta de prioridade dentro do sistema de saúde, que não reconhece a mulher
pescadora com especificidades no momento do atendimento médico, além
do cansaço e exaustão das tarefas não divididas com o companheiro e demais
violências. Mas, apesar das diversas formas de opressões sofridas, encontramos uma forma de nos reinventar a todo tempo e continuar na luta e resistência cotidiana. A solidariedade, reciprocidade e
cuidado entre nós é arma que fragiliza e enfraquece o que nos aprisiona.
Para Belle Souza, que é cabeleireira intuitiva, "cortar cabelo parece algo muito simples num primeiro olhar, mas não existe pessoa que não deseje se sentir bem por dentro e por fora. E o cabelo traz uma carga muito grande de emoção e depósito de expectativas em relação a beleza. Desde que comecei meu trabalho com cortes intuitivos eu consigo ir além do corte e trazer um cabelo que condiz verdadeiramente com o que está dentro e fugindo de padrões pré-estabelecidos". Esse trabalho na Ilha foi incrível. Porque dentro de realidades mais privilegiadas, as mulheres estão assumindo seus cabelos crespos, valorizando sua ancestralidade e nas comunidades esse processo ainda é lento. Mas, pude ver e trabalhar com muitas mulheres em transição e amando seus cachos. Principalmente meninas, tão bombardeadas com "padrões de beleza brancos", afirma Belle.
Reconhecer nossa força e se fortalecer com outras mulheres, nos dá folego para seguir. A prática do autocuidado traz essa possibilidade, pararmos, olharmos para nós e nos permitir ser cuidada e retribuir o cuidado. Audre Lorde disse: “cuidar de mim mesmo não é auto indulgência, é uma auto-preservação e é um ato político”. Para seguirmos e nos mantermos vivas é necessário nos cuidar e é nisso que a Ciranda de Mulheres acredita e seguirá na caminhada da cura e fortalecimento de todas as companheiras!
Ciranda de Mulheres é Resistência!
Caranguejo Uçá é Arte e Solidariedade!
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