06 junho 2023

 Antes do Brasil da Coroa, já existia  o Brasil do Cocar!


Ecoando este grito de guerra, ontem dia 05 de junho, Dia Internacional do Meio Ambiente, Indígenas e coletivos da sociedade civil organizada que lutam por direitos Políticos, ancestrais e humanos e movimentos sociais  ligados a ABONG (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais) uniram forças numa caminhada no centro da cidade de Recife para protestar contra a PL 490, que fortalece a tese do Marco Temporal e que limita os direitos de demarcação dos povos indígenas, as áreas demarcadas na constituição de 1988.

O Marco Temporal ou PL 490 como é conhecida por se tratar de uma política que tem como propósito o extermínio dos povos originários, uma ameaça concreta a vida  das diversas etnias indígenas, além de significar a destruição dos ecossistemas, uma força contrária a luta por Justiça Climática, orquestrada pelas forças perversas e conservadoras ligadas às oligarquias das famílias escravistas e diretamente ao donos dos agronegócios, grileiros, exploradores, que politicamente são correligionários das bancadas da bala, da bíblia e do boi. Uma manobra para efetivação da manutenção, por via legal, das ameaças, atentados e crimes de toda natureza contra as vidas dos povos indígenas.


 Representações dos povos originários Xukuru, Karaxuwanassu, Pankararu e Fulni Ô, além de outras etnias estiveram presentes no protesto. Também participaram da caminhanda outros grupos importantes como OAB, Cendhec, Centro das mulheres do Cabo de Santo Agostinho, Teamu e Companhia, Movimento Negro Unificado, Caranguejo uçá, Pescadoras e Pescadores, FASE, S.O.S Corpo, Articulação Recife de Luta, ativistas independentes, partidos politicos de esquerda e parlamentares que lutam por justica ambiental e direitos humanos.

O ato foi promovido pela ABONG e Articulação Indígena de Mulheres em Contexto Urbano de Pernambuco (Aimcupe) A concentração ocorreu na Praça do Derby e percorreu em marcha pela AV.Conde da Boa Vista, chegando ao ápice na Av. Guararapes no centro do Recife - PE. 

O ambiente é nossa casa, é o lugar onde vivemos, é tudo que nos cerca. Podemos morar no ambiente urbano, no ambiente rural, no litoral, no interior. Seja nas grandes cidades ou em pequenos vilarejos, seja nas margens ou seja nos morros, diversos são os ambientes nos quais povos e comunidades fazem suas moradas.

Porém, são nos territórios tradicionais em que Povos e Comunidades Tradicionais ocupam historicamente, que presenciamos os ambientes (biomas e ecossistemas) mais conservados. Uma vez que, a continuidade do modo de vida tradicional depende principalmente da conservação ambiental. Nesses territórios não há distinção entre a natureza (meio ambiente) e sociedade (seres humanos). Não existe metade ambiente e metade humanidade. Existem ambientes ocupados e conservados por Povos e Comunidades Tradicionais (Indígenas, Quilombolas, Pesqueiras, Extrativistas).



Nesse atual contexto político no qual tentativas de retrocessos provocando o enfraquecimento e desmonte do Ministério do Meio Ambiente e Ministério dos Povos Originários, dizemos: Não ao Marco Temporal! Dizemos: Não ao PL 1.154 e PL 490! 



Por ,Edson Fly e Rodrigo Lima

Imagens,Fotografia, Hamilton Tenório, Lucas José e Edson Fly

25 maio 2023

23° Assembléia Xukuru do Orobubá

Assembleia Xukuru do Ororubá teve a presença da Ministra dos Povos Indígenas e Originários

A 23° Assembleia Xukuru do Ororubá aconteceu na Aldeia Pedra d’Agua, na cidade de Pesqueira, Agreste Pernambucano, e reuniu mais de 3 mil pessoas, entre indígenas, pesquisadores, ambientalistas, autoridades, representantes de vários movimentos sociais, mídias independentes. Além da presença da Ministra dos Povos Indígenas e Originários, Sonia Guajajara.

Entre os dias 17 e 20 de maio, regidos pelo tema: “Limolaygo Toype: Preparando Mentes para Espalhar Sementes”, os participantes ficaram acampados em barracas, vivenciando diversas mudanças climáticas, em contato direto com a natureza, cores, sons e risos, expressando e reforçando sua identidade indígena, principalmente através dos rituais e danças.


A intervenção contou com a intensa presença das mulheres, representantes do sagrado feminino, do conselho dos mais velhos, experientes zeladores dos sonhos, além de muitas crianças e jovens guardiões  do futuro. O encontro foi uma expressão da força emanada dos ancestrais que segue alimentando os seres com sabedoria e resistência, no avanço de suas conquistas, e na afirmação e reconhecimento de seus  potenciais, que carregam na sua caminhada o protagonismo na transformação dos seus destinos, frente a realidade de lutas no combate ao genocídio e reafirmação de sua ancestralidade.



A assembleia teve como objetivo promover debates, análises, celebrações religiosas e apresentações culturais. Participaram do encontro, Célia Xakriabá (1ª Indígena eleita Deputada Federal, em MG), Weibe Tapeba (Secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde), além dos demais povos indígenas do Brasil, em especial do Nordeste, e de outros países, como de instituições parceiras e agentes externos.

Debates e encaminhamentos 

O conselho dos anciãos nas 23 aldeias tem atribuição no empenho dos representantes da  associação do Povo Xukuru, que são jovens representações da políticas, além do Cacique das 23 aldeias que compõem o território.

As elaborações de propostas, projetos e planejamentos nos diversos aspectos que permeiam a partir da educação contextualizada a realidade cultural, resiliência e resistência dentro dos princípios e conceitos étnicos e nas garantias da identidade cultural, impulsionando as narrativas descolonizadoras de forma necessária em todos os setores.

A Ministra dos Povos Indígenas e Originários, Sônia Guajajara, alertou acerca dos desafios  importantes do ponto de vista das articulações no cenário da atual conjuntura politica do país, mas sobre tudo para ampliar o entendimento a cerca da missão de barrar a PL 490/07, marco temporal que coloca em risco as diretrizes jurídica dos direitos dos territórios e povos indígenas em todo país.

Em conexão com outros povos indígenas o encontro celebrou o espírito do Cacique Chicão (Mandaru), que lhes revelam e concedem os caminhos de seguridade dos direitos e prosperidade, pelas visões e sonhos do Senhor Zequinha, o Pajé dos Xucurus, da sagrada Serra do Rei do Ororubá, reafirmando entre os povos a importância de que a união, a partilha, a paz e a harmonia estejam sempre presentes entre os parentes.

Etnias presentes

Povos Indígenas Truká, Pankararu, Fulni-ô, Tapuia, Pataxó, Pataxó Hã-Hã-Hãe, Xukuru-Kariri, Guajajara, Xokó, Katukina, Kaingang, Potiguara, Guarani Kaiowá, Isú-Kariri, Kariri de Poço Dantas, Pankará, Kambiwá, Kapinawá e Kariri da Chapada do Araripe, Teia dos Povos em Pernambuco, Povos e Comunidades Tradicionais do Rio Grande do Norte.

Sociedade civil

Instituições e Organizações IFPE Campus Pesqueira, Diocese de Pesqueira, Residentes de Medicina, Família e Comunidade, CIMI, Conselho Tutelar de Pesqueira, Câmara Municipal de Pesqueira “Casa Anísio Galvão”, Igreja Anglicana do Brasil, Afoxé Alafin Oyó, PSOL, Igreja Batista Coqueiral, Movimento Nós na Criação, Comunidade Bremen.

Representantes da política

Secretários do Município de Pesqueira, CONAFER, Associação Juízes para a Democracia, Residência de Saúde Coletiva com enfoque em Agroecologia da UPE Campus Garanhuns, Associação Jardim – Cannabis Medicina, UFPB, Bacural Ponto de Cultura, Santuário dos Jatobás – Pombos-PE, Nova Cartografia (Vânia Fialho), SIMPERE/Recife, UFRN, UFCA, UFERSA, Coletivo Mandacaru Cia das Artes, IPJ, Associações Italianas “Popoli in Arte” e “Piccolo Mondo”, Coque (R)existe Coletivo, Centro de Capoeira Luz di Angola, Coquevídeo, FIOCRUZ-PE, Coletivo Elas Q Fazem (Olinda), Clube de Alegoria e Crítica: O Homem da Meia Noite, Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Cidadania da Universidade Rural (Pró-Reitor Moisés de Melo Santana), Deputada Estadual Rosa Amorim.

Universidade e instituições de ensino 

Grupo de Pesquisa Diversidade e Saúde, Escola Nacional de Saúde Pública, Centro Acadêmico de Vitória – UFPE, Curso de Psicologia da Faculdade de Belo Jardim / AEB Autarquia de Ensino, Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidade (UFPE/FUNDAJ), Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (ADUFC), Universidade Federal de Brejo Santo, Escola Joanita de Melo (Ouro Branco – MG), Escola Livre de Ancestralidade Kariris, Aldeias de Ponto de Cultura, Centro Regional de Formação, Educação e Cultura Popular – CREFEP (Itambé-PE), Movimento das Comunidades Populares – MCP, FOJUPE, Sindicato dos Trabalhadores Agricultores de Vitória de Santo Antão – PE, Núcleo Terapêutico Cromossomos – MG, EJA Campo (GRE SMI – Arcoverde), – MST, IPA e Coletivo Voz do Quilombo – Ceará Mirim RN, UNICAMP, Licenciatura Intercultural da UFPE.

“Salve a mãe Tamain e pai Tupã, salve o povo Xucuru da serra do Orobubá. Salve o Cacique Marquinho. Salve a Jurema Sagrada. Salve Mandaru cacique Xicão”.

Agradecimentos: a equipe do Caranguejo Uçá, Agência de Notícias das Favelas- ANF e Telesur, junOrorubá Filmes, Dona Zenilda Xukuru, Cacique Marquinho Xucuru, Kleber Xukuru, Guila Xukuru, indigenista e poeta Ângelo Bueno e todo povo Xukuru de Ororubá.

Crédito das imagens: Júnior Cardeal/Edson Fly/Hamilton Tenório

Produção:

Núcleo de Comunicação Caranguejo Uçá em parceria com a Ororubá filmes /ANF/Telesur

Por Edson Cruz (Fly)



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06 abril 2023

O PESCADO ARTESANAL NO SEU DEVIDO LUGAR.

 

Mulheres Pescadoras Artesanais lotam o salão nobre da UFRPE pela primeira vez
numa solenidade aberta pós-pandemia.


A tarde da última segunda-feira (04/04/2023) foi um momento histórico para as Comunidades Tradicionais Pesqueiras e sobretudo para a luta das mulheres pescadoras artesanais de Pernambuco. O salão nobre da Universidade Federal de Pernambuco (UFRPE) sediou o encontro da Articulação Nacional das Pescadoras (ANP) com o Ministro de Pesca e Aquicultura André de Paula (PSD). O momento foi marcado pela presença, força, alegria e determinação de pescadoras artesanais do Litoral Sul, Litoral Norte, Região Metropolitana do Recife e da Zona da Mata que com suas bandeiras, seus hinos e cânticos deram o tom e o brilho da solenidade.



                              

Maria das Águas, pescadora de Lagoa do Carro (Zona da Mata Norte), integrante do
Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP).


                              

Joana Mousinho, pescadora artesanal de Itapissuma, integrante da Articulação Nacional das Pescadoras.


                               

Pescadoras artesanais com pesquisadoras e profissionais
que apoiam a luta dos movimentos sociais.



Pescadoras Artesanais de diversos territórios.


Pescadoras Artesanais do Bode, Brasília Teimosa e
Ilha de Deus que integram as ações da Ciranda de Mulheres.





Além das pescadoras, público contou com a participação de políticos,
estudantes, pesquisadores e pesquisadoras.



Representantes da ANP do litoral norte e sul do estado leram e entregaram uma carta endereçada ao Ministro André de Paula. Esta Carta Política foi elaborada no encontro de pescadoras realizado em Tamandaré em Agosto de 2022, numa ação conjunta pela ANP em parceria com o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), FASE,  Grupo Curumim e SOS Corpo. A Carta utilizou como referências: (I) a Plataforma política do campo popular da Pesca Artesanal para as eleições 2022 (14/06/2022); (II) a Carta da Barqueata "Por uma política efetiva, livre e informada nas políticas públicas para a Pesca Artesanal em Pernambuco" (04/08/2022), e foi atualizada em 30/03/2023.


Miriam Mousinho (Presidenta da Colônia de Pescadores Z-10 / Itapissuma) e Cícera Estevão (Presidenta da Colônia de Pescadores Z-7 / Rio Formoso) leem a Carta Política da ANP.


                                           

Pescadoras leram uma extensa lista de reivindicações.


Carta Política entregue ao Ministério da Pesca e Aquicultura.







Joana Mousinho presenteia o Ministro André de Paula com uma bandeira da ANP.

A solenidade contou com a presença de Cristiano Ramalho - Secretário Nacional da Pesca Artesanal e  de Flávia Lucena - Secretária de Registro, Monitoramento e Pesquisa, que lançaram os seguintes projetos do MPA: "Pescador e Pescadora Legal" e "R.U. na hora do Pescado Artesanal". Os projetos consistem em qualificar e certificar pescadores e pescadoras para as etapas de processamento e beneficiamento dos pescados de origem artesanal que serão adquiridos pelo governo e ofertados no R.U. que atende estudantes de baixa renda. Os projetos serão implementados na UFRPE, mas com a perspectiva de estender para a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) tornando exemplos para serem replicados nos demais estados. Esses projetos já haviam sido anunciados durante o Relançamento do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que contou com a presença do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, no fim de Março em Recife.

Mesa composta por representações da ANP, CPP, UFRPE e MPA.


Reitor Marcelo Carneiro Leão falou da grandiosidade e orgulho do evento para a UFRPE, instituição onde surgiu o curso de Engenharia de Pesca no Brasil, existente há mais de 50 anos e que hoje consegue ofertar cerca de 4.000 refeições por dia no R.U. 




"O R.U. e a Pesca Artesanal salvaram a minha vida!" - Cristiano Ramalho


A frase de Cristiano Ramalho é carregada de signos, símbolos e valores que versam sobre Justiça SocioAmbiental. Ela marca seu retorno ao lugar de onde iniciou sua jornada como estudante e pesquisador. E que ao longo de décadas acompanha e constrói estratégias de luta com os movimentos sociais da pesca artesanal. O secretário nos informou que existe uma expectativa de uma grande conferência para lançar o Plano Nacional da Pesca Artesanal no mês de Novembro. Para isso, serão realizadas previamente as conferências estaduais e regionais.


Maria das Águas (MPP), Cristiano Ramalho (MPA) e Edson Fly (Ação Comunitária Caranguejo Uçá).



A aquisição e distribuição de pescados de origem artesanal feita pelo estado brasileiro representa uma reparação histórica importante para as Comunidades Tradicionais Pesqueiras. Primeiramente porque configura uma política de inclusão social, a identidade sociocultural da pesca artesanal ganha reconhecimento e mais visibilidade. Além disso, proporciona um ganho de escala na comercialização e na geração de renda para milhares de trabalhadores e trabalhadoras das águas que por mais de um século lutam pela garantia dos seus direitos. Esse passo é importante, mas é apenas um. A lista de reivindicações são transversais e passam por questões trabalhistas e previdenciárias, questões fundiárias (PL 131/2020 Pelo Território Pesqueiro) , por questões de saúde e dos reconhecimento das doenças ocupacionais, por questões ambientais, assim como, o combate ao racismo e machismo na Pesca Artesanal. No próprio escopo da Carta Política, a ANP pede para que o governo federal considere leis diretrizes e convenções internacionais (Diretrizes Voluntárias da Pesca de Pequena Escala; Direitos da Terra; Código de Conduta para Pesca; Convenção 169 da OIT) na elaboração de legislação pesqueira. 




André de Paula fala com orgulho da retomada do MPA já em parceria com as Universidades Federais
e com expectativa de ampliar a comercialização do pescado de origem artesanal.














 



26 março 2023

Relançamento do PAA no Recife é marcado por protestos de trabalhadores e trabalhadoras da enfermagem.

 


A tarde da última quarta-feira 22 de Março era pra ter sido um ato histórico e simbólico, marcado pelo relançamento do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e por uma série de acordos e outras medidas envolvendo o governo federal, estadual e municipal, além das Universidades Federais situadas no Recife.




“Nunca antes na história de Pernambuco, um presidente assinou tanto papel de uma só vez aqui. E tantos ministros vieram aqui distribuir recursos pro estado de Pernambuco.”


Para ver e ouvir o início do discurso de Lula, clique no link abaixo:

Lula cobra respeito do público à Raquel Lyra


A fala do presidente Luís Inácio “Lula” da Silva, se referia ao conjunto de documentos assinados e firmados por autoridades políticas num palco montado no Ginásio Geraldão. Além do relançamento do PAA, o público que estava na solenidade presenciou: a reabertura do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural e Sustentável (CONDRAF); o compromisso da Ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos em desenvolver sistemas de monitoramento de alagamentos e desmoronamento de morros durante eventos de chuvas intensas; o Ministro das Cidades Jader Filho assinando a liberação de recursos para obras de proteção às populações que vivem nos morros da cidade do Recife; o Ministro da Pesca e Aquicultura assinando uma cooperação com os reitores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) que irão promover capacitação aos pescadores e pescadoras artesanais do litoral sul do estado e comprar o pescado de origem artesanal para oferecer nos Restaurantes Universitários (RU’s).





André de Paula (MPA) assina documentos com os reitores da UFPE e UFRPE.


A presença maciça de organizações e movimentos sociais, sobretudo aqueles que trabalham no campo e com produção de alimentos saudáveis, oriundos da agricultura familiar e pesca artesanal demonstrava que esses setores seguem apoiando Lula e defendem o seu governo. Além deles, a presença de artistas prata da casa, como: Isaar, Petrúcio Amorim, Maciel Melo e Antônio Marinho abrilhantaram o retorno de Lula ao seu estado natal, na primeira visita após a sua re-eleição para o terceiro mandato. Mas, nem tudo são flores e uma significativa parcela do público presente, composta por trabalhadores e trabalhadoras da educação que reivindicavam o piso salarial no município do Recife e trabalhadores e trabalhadoras da enfermagem que reivindicavam o piso salarial no estado de Pernambuco chamou atenção geral.




Trabalhadores e trabalhadoras de diversos segmentos à espera do evento.

Representantes das Comunidades Quilombolas em Pernambuco.


A cantora Isaar, abriu a solenidade cantando o hino nacional.


Jaime Amorim, Direção do Movimento de Trabalhadores
Rurais Sem Terra em Pernambuco.

Durante toda a fala do prefeito do Recife João Campos (PSB), boa parte do público vaiou. O mesmo aconteceu com a governadora Raquel Lyra (PSDB) que ainda viu profissionais da enfermagem darem as costas enquanto vaiavam e faziam um barulho ensurdecedor com apitos e cornetas durante seu discurso. Esse parece ter sido o primeiro teste de fogo da governadora, diante de uma categoria que esteve na linha de frente no combate ao Coronavírus e que atualmente decretou estado de greve. Além das vaias, o coro: “Respeita a enfermagem!” e “Ô Lula cadê você? Assina logo a MP!” alterou o tom do discurso do presidente, que pediu para o público respeitar a governadora, que não é uma inimiga política e que foi eleita democraticamente pelo povo pernambucano. Sobre a questão do piso salarial da enfermagem, Lula citou que existe uma ação da rede privada contra o pagamento do piso, tramitando no Supremo Tribunal Federal (STF). Lula disse que não pode interceder nas decisões dos outros poderes constitucionais, nesse caso, respeita a decisão do Poder Judiciário, mas no que depender dele, moverá esforços para resolver essa questão e cumprir com o que foi estabelecido no Congresso Nacional sobre o piso salarial.


Para ver um dos momentos em que manifestantes vaiaram a governadora Raquel Lyra, clique no link abaixo: Manifestantes vaiando no Geraldão




Profissionais da educação cobram piso salarial ao prefeito João Campos.


Moradoras da Vila Esperança protestam contra a remoção das famílias pela Prefeitura do Recife.


Trabalhadores e trabalhadoras da enfermagem viram as costas durante
o discurso da governadora Raquel Lyra.



Manifestantes erguem cartazes pedindo assinatura da Medida Provisória (MP)
que garanta o piso salarial da enfermagem.


O PAA possui duas finalidade: incentivar a produção da agricultura familiar e promover o acesso a uma alimentação saudável livre de agrotóxicos. Para isto, o programa compra das famílias agricultoras com dispensa de licitação, contribuindo na formação de estoques de alimentos e os destina às pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional e àquelas atendidas pela rede socioassistencial, pelos equipamentos públicos e pela rede pública e filantrópica de ensino. Além disso, fortalece as redes locais de comercialização, valoriza a sociobiodiversidade e promove o cooperativismo e associativismo no campo. 


Cícera Nunes, presidenta da Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (FETAPE).

No âmbito da segurança e soberania alimentar das Comunidades Tradicionais Pesqueiras, uma das pautas é inserir o pescado de origem artesanal na alimentação da rede pública de ensino e nas demais repartições públicas, porém, um dos principais desafios é: Como garantir pescados saudáveis produzidos em corpos d’água limpos? Uma vez que lagoas, rios, estuários e mares sofrem com o lançamento de esgoto doméstico e industrial não tratado. Apesar da Organização das Nações Unidas (ONU) declarar 2021-2030 como a década dos Oceanos, poucos esforços governamentais são direcionados para garantir uma produção saudável de frutos do mar oriundos da pesca artesanal. 



Pescadora com a bandeira da Articulação Nacional das Pescadoras (ANP).






13 fevereiro 2023

Comunidade Pesqueira terá sua Creche de volta após mais de 15 anos.




No final do mês de Janeiro, a Comunidade Tradicional Pesqueira Ilha de Deus recebeu a visita do prefeito da cidade do Recife João Campos para uma ação simbólica de assinatura da ordem de serviço para reconstrução da Creche Comunitária. No entanto, a reconstrução da creche não é um sonho que se tornará realidade, mas é fruto de uma luta ancestral, é a continuidade do protagonismo comunitário, é acima de tudo, uma dívida política. 



A iniciativa da Creche Comunitária Saber Viver surgiu em meados do ano 90 quando Conceição (Ceça) Lino Carneiro passou a utilizar as dependências de sua casa para acolher filhos e filhas de pecadoras que precisavam ir para a maré, mas não tinham com quem deixar suas crianças. Em 2007, o governo do estado de Pernambuco deu início ao processo de urbanização da Ilha de Deus, demolindo todas as casas e equipamentos sociais, para serem reconstruídos por etapas. A urbanização na época custou R$80.000.000 (oitenta milhões de reais) aos cofres públicos, porém a obra foi paralizada entre 2014 e 2015, abandonada e nunca foi concluída de fato. Uma parcela das casas não foi finalizada, da creche só existe a base de fundação e a Unidade de Beneficiamento de Pescado (promessa de campanha) nunca foi equipada e posteriormente tornou-se moradias.





A obra de reconstrução será iniciada no corrente ano, será chamada oficialmente Creche Escola Municipal Dona Beró (Ilha de Deus), devendo estar pronta e estruturada para receber as crianças da comunidade apenas em 2024. Na ocasião, o prefeito João Campos também anunciou que vai lutar para trazer projetos que beneficiem a casca do sururu e do marisco. Estas cascas são descartadas na maré após o cozimento dos moluscos e acabam se tornando um problema porque aterram o mangue que circunda a comunidade.





03 dezembro 2022

1ª Conferência Jornalismos Plurais







Encerrando o mês da Consciência Negra, estudantes, profissionais, pesquisadores e ativistas da comunicação participaram da 1ª Conferência de Jornalismos Plurais que aconteceu nos dias 25 e 26 de Novembro no Centro de Cultura Luiz Freire em Olinda. Nos dois dias de conferência, os participantes promoveram um potente intercâmbio de experiências de como fazer comunicação.  As diferentes identidades ali presentes atuantes em diversos territórios convergiram numa mesma luta, o Direito à Comunicação.  


 


  



O encontro reuniu diversos coletivos de mídia independente que integram o Mapa da Mídia em Pernambuco, a exemplo da Rede Tumulto, muito bem representada por Yane Mendes,  que deu a real sobre a comunicação das quebradas, além de ícones que construíram uma trajetória de resistência e ainda atuam com sua sabedoria e compromisso na luta pela liberdade de expressão, como a nossa amada, companheira Manina Aguiar, que nos ilumina com a força do programa Rádio Mulher.



 

 


 



Dentre as experiências dos coletivos que integram o PAJOR, entrevistamos representantes: da Rede Wayuri por utilizar a comunicação via podcast e rádio para fortalecimento da identidade cultural em defesa dos território; e do Fala Roça por envolver profissionais da Comunidade da Roçinha nas produções do jornalismo impresso.  


ACCU: Como está organizada a Rede Wayuri? Quais os dispositivos que vocês usam e como flui a comunicação feita por vocês?

CW: A nossa principal produção é o Podcast da Rede Wayuri que é distribuída pelo grupo de whatsapp onde estão os comunicadores das 5 regiões, que compartilham nas comunidades. Quando a localidade não tem sinal de internet, os comunicadores vem até a sede (São Gabriel da Cachoeira – AM) onde recebem os boletins de áudio em pen-drives e multiplicam nos seus territórios e comunidades em rádio poste.  Nesses tempos, temos utilizando nossas redes sociais, como Instagram e o site da Rede Wayuri, onde usamos como meio de divulgação das atividades, encontros e também publicamos pequenos textos sobre todo os trabalhos que viemos fazendo ao longo desses 5 anos.


Claudia Wanano (Rede Wayuri)

ACCU: Como foi o processo de surgimento da rede desde o início até agora? 

CW: Desde o início da rede para manter as produções, a gente vem trabalhando na captação de recursos através de editais e a Repórteres Sem Fronteiras foi um grande parceiro que surgiu para fortalecer nossas ações que já vínhamos desenvolvendo. Nós compramos equipamentos, alugamos uma sede, onde a gente faz a nossa produção e acolhemos nossos comunicadores que vem das bases. Agora a gente tá no caminho de estruturar e fazer a documentação da rede para que futuramente possa se tornar uma Rede de Comunicadores Indígenas Independente para que caminhe com seus próprios passos.

ACCU: Quais os principais desafios que vocês encontram na comunicação feita pela Rede Wayuri? 

CW: A gente trabalha principalmente nesse foco de conscientização, de poder abrir mais os olhos de nossos parentes que estão lá nas fronteiras. Porque como eles não tem tanta informação, nossa missão é alertar dos riscos e perigos de garimpeiros, madeireiros, de pessoas que vão pra nossa região ilegalmente sem pedir permissão, que acabam entrando lá só pra prejudicar. E utilizamos a língua materna porque facilita o entendimento deles sobre as informações concretas e ajuda a quebrar as “fake news” que chegam em nosso território.  



Michel Silva (Fala Roça) 


ACCU: Há quanto tempo existe o Fala Roça e qual o cenário que se encontra hoje, em termos de equipe, voluntariado e rede que está inserida?

Eu sempre brinco que a gente tem uma equipe muito enxuta que consegue se entregar de força humana e de coração, são pessoas que acreditam na idéia do Fala Roça. Atualmente somos uma equipe de 5 pessoas remuneradas, temos uma sede alugada na Roçinha, temos uma rede de voluntariados e uma rede de freelancers que em sua maioria são moradores da Roçinha. Embora a gente não tenha capacidade de ampliar essa equipe atualmente, nós temos uma capacidade de remunerar para produzir alguns conteúdos específicos (fotógrafos, repórteres, cinegrafistas). Em relação à instituição, o Fala Roça surgiu entre 2012 - 2013 e o processo de formalização começou a partir de 2020, então a gente passou um limbo de 7 a 8 anos. A partir do momento que a gente consegue um recurso pra formalizar e começa a encarar o Fala Roça como uma organização em que a gente pode viver de renda do Jornal, começamos a ingressar numa nova perspectiva e hoje com projeções ambiciosas de aumentar a capacidade de recursos humanos e pensar projetos pra daqui a dois anos.

 

ACCU: Ao longo da experiência do Fala Roça, vocês conseguiram acessar recursos públicos (editais, emendas parlamentares, acordos de cooperação)?

MS: Historicamente, uma das linhas de receita do Fala Roça é de editais. Durante 10 anos a gente estudou como escrever projetos e os editais acabaram se tornando uma das principais formas de receita da organização. Mas, também temos receita de doações, Catarse e de fundações. Agora, a gente tá tentando testar um modelo de negócio que possa nos dar uma sustentabilidade por meio da publicidade, só que ainda tá em fase de teste. Mas, é muito complexo fazer a captação publicitária por marcas porque há uma idéia de que os veículos periféricos não sabem apresentar as métricas da sua audiência. Eu sugiro que estude sua audiência, estude seus objetivos, para quando surgir uma oportunidade publicitária, você tenha a capacidade de poder apresentar isso, mas sem vender todo o ouro que você tem, porque o dado é ouro. 

 

ACCU: O que é que falta para os grupos que fazem comunicação dita “popular/independente/periférica” acessar políticas públicas? Quais são os caminhos para sustentabilidade desses grupos?

 

MS: Têm vários caminhos. Cada organização tem a suas escolhas, que vão determinar a forma como elas vão buscar os seus recursos para manter o funcionamento da produção de conteúdos e notícias. Pros coletivos que ainda não são formalizados, a gente deve continuar questionando e lutando por políticas públicas de financiamento dessas organizações no sentido do Direito à Comunicação. Agora numa organização de mídia formalizada, você consegue ter uma maior captação por meio de editais e por meio de agências de propaganda e publicidade. Mas, o grupo precisa fazer uma série de análises: Se essa marca dialoga com sua linha editorial? Quais os impactos que esse anúncio vai causar na sua audiência? Como sua audiência vai se comportar diante disso? Outra questão que a gente discute muito pouco, principalmente na periferia, é a criação de um plano de negócios. A gente nunca nem teve educação financeira, como é que a gente vai pensar na criação de negócios se a gente ainda tá lutando pelo direito à comunicação?



Por fim, é muito importante dizer que a mola que move e liberta vem do povo.


Caranguejo Uçá é Arte e Solidariedade!