03 dezembro 2022

1ª Conferência Jornalismos Plurais







Encerrando o mês da Consciência Negra, estudantes, profissionais, pesquisadores e ativistas da comunicação participaram da 1ª Conferência de Jornalismos Plurais que aconteceu nos dias 25 e 26 de Novembro no Centro de Cultura Luiz Freire em Olinda. Nos dois dias de conferência, os participantes promoveram um potente intercâmbio de experiências de como fazer comunicação.  As diferentes identidades ali presentes atuantes em diversos territórios convergiram numa mesma luta, o Direito à Comunicação.  


 


  



O encontro reuniu diversos coletivos de mídia independente que integram o Mapa da Mídia em Pernambuco, a exemplo da Rede Tumulto, muito bem representada por Yane Mendes,  que deu a real sobre a comunicação das quebradas, além de ícones que construíram uma trajetória de resistência e ainda atuam com sua sabedoria e compromisso na luta pela liberdade de expressão, como a nossa amada, companheira Manina Aguiar, que nos ilumina com a força do programa Rádio Mulher.



 

 


 



Dentre as experiências dos coletivos que integram o PAJOR, entrevistamos representantes: da Rede Wayuri por utilizar a comunicação via podcast e rádio para fortalecimento da identidade cultural em defesa dos território; e do Fala Roça por envolver profissionais da Comunidade da Roçinha nas produções do jornalismo impresso.  


ACCU: Como está organizada a Rede Wayuri? Quais os dispositivos que vocês usam e como flui a comunicação feita por vocês?

CW: A nossa principal produção é o Podcast da Rede Wayuri que é distribuída pelo grupo de whatsapp onde estão os comunicadores das 5 regiões, que compartilham nas comunidades. Quando a localidade não tem sinal de internet, os comunicadores vem até a sede (São Gabriel da Cachoeira – AM) onde recebem os boletins de áudio em pen-drives e multiplicam nos seus territórios e comunidades em rádio poste.  Nesses tempos, temos utilizando nossas redes sociais, como Instagram e o site da Rede Wayuri, onde usamos como meio de divulgação das atividades, encontros e também publicamos pequenos textos sobre todo os trabalhos que viemos fazendo ao longo desses 5 anos.


Claudia Wanano (Rede Wayuri)

ACCU: Como foi o processo de surgimento da rede desde o início até agora? 

CW: Desde o início da rede para manter as produções, a gente vem trabalhando na captação de recursos através de editais e a Repórteres Sem Fronteiras foi um grande parceiro que surgiu para fortalecer nossas ações que já vínhamos desenvolvendo. Nós compramos equipamentos, alugamos uma sede, onde a gente faz a nossa produção e acolhemos nossos comunicadores que vem das bases. Agora a gente tá no caminho de estruturar e fazer a documentação da rede para que futuramente possa se tornar uma Rede de Comunicadores Indígenas Independente para que caminhe com seus próprios passos.

ACCU: Quais os principais desafios que vocês encontram na comunicação feita pela Rede Wayuri? 

CW: A gente trabalha principalmente nesse foco de conscientização, de poder abrir mais os olhos de nossos parentes que estão lá nas fronteiras. Porque como eles não tem tanta informação, nossa missão é alertar dos riscos e perigos de garimpeiros, madeireiros, de pessoas que vão pra nossa região ilegalmente sem pedir permissão, que acabam entrando lá só pra prejudicar. E utilizamos a língua materna porque facilita o entendimento deles sobre as informações concretas e ajuda a quebrar as “fake news” que chegam em nosso território.  



Michel Silva (Fala Roça) 


ACCU: Há quanto tempo existe o Fala Roça e qual o cenário que se encontra hoje, em termos de equipe, voluntariado e rede que está inserida?

Eu sempre brinco que a gente tem uma equipe muito enxuta que consegue se entregar de força humana e de coração, são pessoas que acreditam na idéia do Fala Roça. Atualmente somos uma equipe de 5 pessoas remuneradas, temos uma sede alugada na Roçinha, temos uma rede de voluntariados e uma rede de freelancers que em sua maioria são moradores da Roçinha. Embora a gente não tenha capacidade de ampliar essa equipe atualmente, nós temos uma capacidade de remunerar para produzir alguns conteúdos específicos (fotógrafos, repórteres, cinegrafistas). Em relação à instituição, o Fala Roça surgiu entre 2012 - 2013 e o processo de formalização começou a partir de 2020, então a gente passou um limbo de 7 a 8 anos. A partir do momento que a gente consegue um recurso pra formalizar e começa a encarar o Fala Roça como uma organização em que a gente pode viver de renda do Jornal, começamos a ingressar numa nova perspectiva e hoje com projeções ambiciosas de aumentar a capacidade de recursos humanos e pensar projetos pra daqui a dois anos.

 

ACCU: Ao longo da experiência do Fala Roça, vocês conseguiram acessar recursos públicos (editais, emendas parlamentares, acordos de cooperação)?

MS: Historicamente, uma das linhas de receita do Fala Roça é de editais. Durante 10 anos a gente estudou como escrever projetos e os editais acabaram se tornando uma das principais formas de receita da organização. Mas, também temos receita de doações, Catarse e de fundações. Agora, a gente tá tentando testar um modelo de negócio que possa nos dar uma sustentabilidade por meio da publicidade, só que ainda tá em fase de teste. Mas, é muito complexo fazer a captação publicitária por marcas porque há uma idéia de que os veículos periféricos não sabem apresentar as métricas da sua audiência. Eu sugiro que estude sua audiência, estude seus objetivos, para quando surgir uma oportunidade publicitária, você tenha a capacidade de poder apresentar isso, mas sem vender todo o ouro que você tem, porque o dado é ouro. 

 

ACCU: O que é que falta para os grupos que fazem comunicação dita “popular/independente/periférica” acessar políticas públicas? Quais são os caminhos para sustentabilidade desses grupos?

 

MS: Têm vários caminhos. Cada organização tem a suas escolhas, que vão determinar a forma como elas vão buscar os seus recursos para manter o funcionamento da produção de conteúdos e notícias. Pros coletivos que ainda não são formalizados, a gente deve continuar questionando e lutando por políticas públicas de financiamento dessas organizações no sentido do Direito à Comunicação. Agora numa organização de mídia formalizada, você consegue ter uma maior captação por meio de editais e por meio de agências de propaganda e publicidade. Mas, o grupo precisa fazer uma série de análises: Se essa marca dialoga com sua linha editorial? Quais os impactos que esse anúncio vai causar na sua audiência? Como sua audiência vai se comportar diante disso? Outra questão que a gente discute muito pouco, principalmente na periferia, é a criação de um plano de negócios. A gente nunca nem teve educação financeira, como é que a gente vai pensar na criação de negócios se a gente ainda tá lutando pelo direito à comunicação?



Por fim, é muito importante dizer que a mola que move e liberta vem do povo.


Caranguejo Uçá é Arte e Solidariedade!

11 agosto 2022

BARQUEATA POR DIREITOS E BEM VIVER DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS PESQUEIRAS DO RECIFE E PERNAMBUCO





Um dia ensolarado de inverno, navegando em um rio cada vez mais raso, pescadores e pescadoras artesanais do Recife protestando pelo direito de ir e vir na maré, assim deverá ser lembrada a Barqueata 2022 que ocorreu nesta última terça-feira (09/08). O ato que foi construído por 21 organizações e movimentos sociais surgiu a partir de uma indignação de pescadoras da Ilha de Deus com a privatização das águas do Recife e pela falta de um programa que ampare de maneira digna e justa trabalhadores e trabalhadoras da pesca artesanal quando ficam impedidos de realizar suas atividades. 


 



As embarcações se concentraram na rampa da Ilha de Deus e seguiram navegando pela Bacia do Pina em direção ao Cais de Santa Rita, lá chegando, o encontro com diversas outras Comunidades Pesqueiras do litoral norte e sul do estado tomou conta das ruas do bairro de Santo Antônio nas imediações do Armazém do Campo. Com faixas e cartazes denunciaram: o racismo ambiental, a negação de direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais (Convenção 169 da OIT, pela qual o Brasil é signatário) e as ameaças de atuais e futuros empreendimentos em territórios pesqueiros que são ambientes historicamente utilizados pelas comunidades para o desenvolvimento da pesca artesanal.



A manifestação que levou muita arte e diversas bandeiras de luta seguiu até o Palácio do Campo das Princesas, onde foi lida a Carta-Manifesto com as reivindicações. Como não havia nenhuma representação do governo com poder de decisão, manifestantes seguiram até a sede da SEPLAG (Secretaria de Planejamento e Gestão), instância que coordena o Chapéu de Palha, único programa de governo que atende a pesca artesanal nos períodos de inverno (período de baixa produção e rentabilidade), porém de maneira insatisfatória e muito abaixo das atuais necessidades das comunidades. 


 

  

 


Após uma reunião com Maria Oliveira, coordenadora do Chapéu de Palha, a comissão que representou a Barqueata, formada por pescadores e pescadoras de várias comunidades, comunicadores e assessoria jurídica, protocolou a Carta-Manifesto. Neste documento, a representante do governo se compromete a articular com os órgãos estaduais (SEMAS, SEPLAG, SARA, SERES, ITERPE, CPRH e IPA) e o governador Paulo Câmara a realização com urgência de uma audiência pública para receber as demandas das comunidades tradicionais pesqueiras. Além disso, garantir a estas comunidades o direito a consulta prévia, livre e informada antes da implementação de empreendimentos e políticas que impactem as comunidades tradicionais pesqueiras, além de um processo de revisão do programa Chapéu de Palha da Pesca Artesanal.



Para acessar a carta-manifesto com as reivindicações das comunidades tradicionais pesqueiras, organizações e movimentos sociais, clique no link abaixo:


CARTA-MANIFESTO BARQUEATA