02 dezembro 2019

30 Anos é Celebrar! FÓRUM de MULHERES de PERNAMBUCO


                       
Na última sexta-feira (29/11), mulheres de diferentes gerações, orientações sexuais e regiões do estado coloriram com artivismo a celebração dos 30 anos do Fórum de Mulheres de Pernambuco (FMP). A data torna-se um dia simbólico e histórico pelo encontro de diversas mulheres da Região Metropolitana do Recife, da Zona da Mata, do Agreste e Sertões do Pajeú e do Araripe. O evento iniciou com um resgate histórico do FMP, que surge entre o período da Ditadura Militar e o processo de Redemocratização do Brasil, acolhendo e fortalecendo a luta pelo fim da violência conta à mulher e pela garantia de políticas voltadas para as mulheres. Dessa forma, enfrentando e brigando por mais democracia nas nossas vidas e no mundo, o FMP faz surgir várias outras organizações e coletivos de mulheres feministas entendendo a especificidade e particularidade de cada região e de cada mulher.    

"O FMP significa: empoderamento, fortaleza, crescimento pessoal, político e social, porque nós do interior conseguimos aprender e repassar tudo para nossa base, para as comunidades onde nós trabalhamos na zona rural da nossa região." (Rose Silva, Associação de Mulheres de Água Preta - Fórum de Mulheres da Mata Sul).


 



Ao longo do dia, a celebração seguiu tecendo as lutas e desafios diante da conjuntura que vem impactando diretamente a nós mulheres, reiterando a importância do FMP, como um dos instrumentos de luta e resistência dessas mulheres guerreiras que se cruzam na luta feminista. Entre as diversas falas e depoimentos, pedindo licença sempre às mais velhas, foi um momento de trocas, de memória e de reconhecimento das que vieram antes de nós e os desafios e necessidades dessa continuidade. Ao longo destas 3 décadas, as simbologias feministas foram tomando formas, ocupando e demarcando os espaços da cidade e negritando palavras de ordem, muito enfatizada durante as falas no encontro, como: "Nosso Corpo, Nosso Território!", "O Privado é Público!" e com isso, pautas e questões que eram tidas como tabus nos anos 80 e 90 ganharam a disputa para enfrentar a violência contra às mulheres nas ruas. Nos anos 2000, o FMP começa a realizar vigílias, e com participação maior e mais efetiva nos processos de conferências e conselhos demarcando e construindo por vias institucionais, quais políticas e ações queremos, e como, de acordo com nossas demandas e necessidades.

"Uma das práticas que ao longo desses 30 o Fórum tem, são as vigílias, que é sair nas ruas em forma de denúncia desses feminicídios, em denúncia dessa mulheres que são vítimas de violência. A gente tá aqui pra honrar cada mulher dessa que foi vitimada e exigir do estado uma postura eficaz com políticas públicas de combate, de enfrentamento a violência contra à mulher. A gente entende que isso é responsabilidade do estado, e enquanto movimento social tá cobrando, exigindo e nas rua pra denunciar isso. A vigília tem essa função, ser uma manifestação em memória dessas mulheres, mas também de cobrança para que mais mulheres não sejam vitimadas e a gente consiga garantir esse direito de todas nós de viver uma vida livre de violência." (Natália Cordeiro, Fórum de Mulheres de Pernambuco - Recife). 






  
Ao som dos tambores da Batucada Feminista, a Vigília Pelo Fim da Violência Contra às Mulheres tomou a avenida Conde da Boa Vista, com cartazes, faixas, e intervenções artísticas. Enquanto as demais integrantes seguravam velas simbolizando em memória mulheres vitimadas e exigiam políticas públicas de combate e enfrentamento a essa violência. Abraços, choros, panfletagem e falas no microfone tomaram conta do corpo de cada mulher que caminhavam em direção ao Palácio da Justiça. 30 anos é celebrar! 30 anos marcados de muitas histórias, vitórias, perdas, mas resistência e que negrita a importância de continuar na luta por um outro mundo, onde o feminismo possa sempre nos transformar.


Imagens: Edson Fly, Fran Silva, Hamilton Tenório e Rodrigo Lima.

26 novembro 2019

22 de Novembro: Dia de Luta da Pesca Artesanal e memória do Almirante Negro



Durante a tarde da última sexta-feira (22/11), o anfiteatro da Ação Comunitária Caranguejo Uçá deu espaço para a Audiência Pública Externa que discutiu a situação da Pesca Artesanal em Recife. Puxada pelo vereador Ivan Moraes (PSOL), a audiência iniciou com a exibição de um vídeo apresentando resultados da pesquisa em andamento "Morada de Peixe", que tem como objetivo apresentar dados científicos quantitativos e qualitativos sobre a pesca artesanal em Recife, destacando-se:

* Na Ilha de Deus,  9 em cada 10 casas tem alguém que pesca;
* Em 82% das casas, a pessoa responsável realiza pesca artesanal e dela mantém sua família;
* Na comunidade existem pessoas que vivem e trabalham na pesca artesanal a mais de 50 anos;
* Pescadoras e Pescadores trabalham entre 3 e 6 dias por semana, de 4 a 12 horas por dia;
* 1 em cada 5 Pescadoras/Pescadores vende diretamente ao consumidor final, porém mais da metade comercializa para atravessadores;
* A Pesca Artesanal movimenta em média R$200 mil ao mês, resultando em R$2,4 milhões por ano na comunidade;
* Apenas 6% receberam algum crédito ou financiamento para desenvolverem suas atividades;
* 65% dos pescadores e pescadoras nunca participaram de nenhuma capacitação na área.
* Em 1/3 das casas alguém nasceu com auxílio de parteira;
* 68% fazem uso de plantas medicinais;
* 4 em cada 10 estudantes da Ilha de Deus estudam na comunidade, mas sem educação contextualizada;
* 94% das crianças que frequentam creche municipal, precisam ir à uma comunidade vizinha.

Após a apresentação de alguns desses dados, seguiram as falas institucionais da sociedade civil organizada e do poder público executivo municipal. Dentre as potencialidades e os desafios que permeiam o universo da Pesca Artesanal em Recife, discutiu-se a necessidade de um reconhecimento do estado com as Comunidades Tradicionais Pesqueiras e os impactos indiretos do petróleo bruto que atingiu parte do litoral brasileiro e comprometeu a comercialização do pescado produzido pela pesca artesanal. Entre afirmações e contestações sobre a liberação ou proibição do consumo de pescados, há mais dúvidas e sigilos do que certezas e evidências. Até o momento, continuamos sem saber se os peixes, crustáceos e moluscos que abastecem peixarias, feiras e mercados da cidade estão contaminados ou livres dos poluentes conhecidos como Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos (Benzeno, Tolueno, Xileno). A falta de informações precisas trazem receios aos institutos de pesquisa, sobretudo no âmbito da saúde pública e preocupa milhares de pescadores e pescadoras que não conseguem vender sua produção e enfrentam necessidades econômicas. 




Diante disso, a mesa que compôs a Audiência Pública Externa, se comprometeu em elaborar um Projeto de Lei que regularize os Territórios Pesqueiros a nível municipal. Seguindo o exemplo do que prevê o Projeto de Lei de Iniciativa Popular entregue na última quinta-feira (21/11/2019) na Câmara dos Deputados em Brasília, pelo Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil (MPP), e outros movimentos sociais, como: Conselho Pastoral do Pescadores (CPP) e Articulação Nacional das Pescadoras (ANP). Esta ação é vista como um passo importante para que "bairros"e "localidades" do Recife, até então tratadas como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), sejam enfim reconhecidas como Comunidades Tradicionais Pesqueiras e futuramente, políticas públicas de saúde, educação e desenvolvimento econômico sejam aplicadas de forma contextualiza, valorizando o modo de vida singular da Pesca Artesanal.

Recentemente, foi encaminhado na Assembléia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), um Projeto de Lei de autoria das Co-Deputadas Estaduais Juntas (PSOL) para incluir o 22 de Novembro como Dia Estadual da Luta das Pescadoras e Pescadores Artesanais no calendário oficial de eventos e datas comemorativas de Pernambuco. Vale ressaltar que, nesta mesma data a 109 anos atrás (22/11/1910), iniciava a Revolta da Chibata. O levante protagonizado por marinheiros negros e liderado por João Cândido, teve como objetivo, pôr fim às punições físicas as quais eram submetidos. Os insurgentes se rebelaram e tomaram 4 navios de guerra, ameaçando bombardear a cidade do Rio de Janeiro, capital da recente República, caso suas exigências não fossem atendidas. A revolta durou 4 dias e posteriormente, os marinheiros que participaram do motim foram presos ou banidos da corporação, porém João Cândido entrou para história como "O Almirante Negro", aquele responsável por abolir o uso da chibata na Marinha do Brasil.

09 outubro 2019

JORNALISMO E PERIFERIAS



No último domingo (06), a Comunidade Tradicional Pesqueira Ilha de Deus sediou a última etapa do curso Jornalismo e Periferias, uma proposta realizada pela Escola de Jornalismo ÉNois e ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) em parceria com a Marco Zero Conteúdo e apoio da Google News Initiative. Durante três dias, estudantes, jornalista, militantes de movimentos sociais e profissionais que trabalham em prol da comunicação, trocaram saberes, experiências e refletiram sobre os desafios em realizar um jornalismo ético, comprometido com os direitos humanos, embasado pela investigação de dados e atento aos cuidados digitais. "A iniciativa é importante para o debate público, uma vez que conecta diferentes esperiências de jornalismo, realizados por coletivos e veículos que trazem outras narrativas, de outras perspectivas, longe dos centros urbanos e das redações tradicionais", destaca Débora Britto (Marco Zero Conteúdo). De acordo com a repórter, o apoio, valorização e fortalecimento desses grupos é essencial  para trazer outras notícias, de outros pontos de vista. Visto que, a cidade muitas vezes ignora quem tá na periferia e quem comunicação à partir da sua própria realidade.

 
 

 
Para a jornalista de dados Géssika Costa (Agência TATU / Coletivo O Que Os Olhos Não Veem Em Maceió), oportunidades como essa, possibilitam a construção de um jornalismo cada vez mais diverso, plural e independente, uma vez que a simbiose entre as diferentes experiências fortalece a comunicação social. "Tão importante quanto os conhecimentos técnicos, são o uso da LAI (Lei de Acesso à Informação) e a segurança digital". Sobre os principais enfrentamentos encontrados no exercício do jornalimo, enfatiza com estatísticas alagoanas: "A maior dificuldade ainda é a violência, nas mais variadas formas. Na terra onde hospedou o maior quilombo conhecido das Américas, o Quilombo dos Palmares, uma pessoa negrta tem 17 vezes mais chance de ser assassinada do que uma pessoa branca. As pessoas que trabalham para denunciar esses casos também estão na mira. As pessoas que trabalham para denunciar esses casos também estão na mira. Para quem vai cobrir como comunicador social, como jornalista, a dificuldade é o enfrentamento à violência". Ela ainda aponta para um elemento crucial no jornalismo independente, "a questão do apoio financeiro para que nossas ideias possam ser executadas e fazer a diferença na vida de quem mais precisa".


  
A disputa entre o discurso da mídia hegemômica e uma contra-narrativa é pauta recorrente na Ilha de Deus e em outros territórios considerados periféricos nas grandes cidades. A estigmatização destas comunidades, consideradas como populações em vulnerabilidade social sempre estampou as capas e páginas dos principais veículos de comunicação impressa, radiodifusora e televisiva. Porém, o surgimento e fortalecimento das redes de comunicação associados à ações de empoderamento vem transformando essa realidade, como relata Júnior Silva (Rede de Agentes Comunitários de Comunicação / Agência de Notícias das Favelas): "O Ibura (bairro da zona sul de Recife) vem se fortalecendo com a formação de grupos e coletivos que combatem preconceitos (lgbtfobia, racismo, fascismo) dentro das periferias e vem trabalhando de forma a se organizar, ocupando o território, assumindo a identidade cultural e politizando o pensamento à partir da sua vivência".
Para Júnior, produtor de conteúdo do jornal A Voz da Favela, o curso permite a possibilidade de fazer intercâmbio jornalístico à partir da visão da periferia, o que considera contra-hegemônico, frente a um projeto de jornalismo estabelecido, onde apenas a grande mídia, cujos interesses são privados, ganha visibilidade. "É importante para o crescimento do movimento, pois permite integração entre vários territórios, aumentando o leque de possibilidades para eventos conjuntos e iniciativas que possam ser desenvolvidas em várias localidades ao mesmo tempo ou em sequência". Segundo Silva, este processo estabelece uma organização que permite a democratização da comunicação, fazendo com que a informação não apenas chegue, mas seja entendida por toda a população. "A produção de conteúdo voltado para a periferia, mas que traz a visão da própria favela", afirma.

O curso Jornalismo e Periferias aconteceu entre os dias 04, 05 e 06 de Outubro na UNICAP em Recife, mas contou com representantes de outras cidades da Região Metropolitana e de 3 estados nordestinos. Depois de ter passado pelas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, o curso segue para mais uma edição, dessa vez em Belo Horizonte, durante o período de 25 a 27 do mês corrente.




































11 setembro 2019

Seminário de Conjuntura do Nordeste.



"- Qual o campo político que nos situamos?
- Que tipo de democracia estamos pretendendo fortalecer?
- As resistências perpassam umas pelas outras como uma possibilidade de campo político?
- Qual a perspectiva de desenvolvimento local e regional e qual a relação com o contexto nacional?
- Quais são as forças antagônicas pra gente discutir todas as formas de resistência do ponto de vista do nosso cotidiano?"


Foi baseado nessas reflexões que militantes, ativistas, educadores e integrantes de um conjunto de organizações populares debateram sobre "As lutas e resistências dos Movimentos Sociais do Nordeste na disputa e construção pela Democracia que queremos", tema central do Seminário de Conjuntura do Nordeste, realizado pela Escola de Formação Quilombo dos Palmares (EQUIP) entre os dias 29 e 31 de Agosto em Recife.




Segundo Joana Santos, "O seminário não é apenas um evento, mas um processo de formação política que se junta a uma mobilização social dos movimentos populares na região, que conta com os seguintes parceiros e parcerias: ABONG, SERTA, RECID, CUT-PE, SOS Corpo, FETAPE, Centro Sabiá, CEAAL, FASE-PE, Armazém do Campo - MST, Rede de Mulheres Negras, ENFOC e Fórum de Mulheres de Pernambuco)". Durante a abertura realizada no Armazém do Campo, diversos grupos artísticos e culturais se apresentaram na feira agroecológica e de economia solidária Sandro Cipriano (educador popular, militante lgbt, da agroecologia e do campo brutalmente assassinado em Junho passado). Na ocasião, também aconteceu uma aula pública com representantes dos movimentos do campo, LGBTQI+ e analistas políticos.







Nos dias seguintes, o seminário consistiu em dinâmicas de grupo, através de rodas discursivas compostas por representantes dos seguintes segmentos da sociedade: Mulheres, Juventudes, Indígenas, Negros e Negras, LGBTQI+, Comunicação, Agroecologia/Economia Solidária e Cultura. Nos debates foram pautadas as questões estruturantes sobre conjuntura e democracia, à partir das convergências, potencialidades e impasses vivenciados por cada segmento social. Além disso, pensar estratégias de articulação dos sujeitos para enfrentar o desmonte de alguns serviços públicos e o retrocesso de direitos conquistados. Dentro de uma variedade de bandeiras, cujas lutas são plurais, permeia uma incógnita que também pode ser considerada uma força motivacional de transformação política em nossa sociedade: "Como criar uma unidade dentro da diversidade?"

"Nós precisamos fazer o caminho dos Quilombos! A gente não fugiu, a gente fez outros campos! A gente não fugiu, a gente se libertou! A gente não fugiu, a gente se organizou! Se organizou com vários, se organizou com todos e todas. Na nossa diversidade, a gente pode buscar essa unidade. A gente precisa dessa perspectiva de diferentes, mas a caminho do Quilombo, aponta Luciana, jovem, militante do movimento negro.






No segundo dia, o seminário trouxe o manifesto de lançamento da campanha latinoamericana e caribenha em defesa do legado de Paulo Freire. "Essa campanha é um instrumento político-pedagógico para difundir, debater, disseminar as ideias de Paulo Freire, e sobretudo, estimular práticas de educação popular. Paulo Freire representa um pensamento crítico latino americano, sendo uma das inspirações mais importantes para um projeto popular de país e sociedade", afirma Pedro Pontual (Consejo de Educación Popular de América Latina y el Caribe - CEAAL).



Para ler o manifesto, acesse o link:
Manifesto de Lançamento da Campanha Latinoamericana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire

O Consórcio Nordeste lançado como estratégia político-econômica em conjunto pelos 9 governadores da região, também foi motivo de reflexões e questionamentos, sobretudo, com relação ao modelo de desenvolvimento e quais serão as prioridades. Invariavelmente, grandes empreendimentos e megaprojetos de desenvolvimento impactam drasticamente e de forma irreversível o modo de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais, como Indígenas, Quilombolas, Comunidades Pesqueiras e Povos do Campo.  





A Ação Comunitária Caranguejo Uçá, núcleo de comunicação de uma Comunidade Tradicional Pesqueira é parceiro da Escola de Formação Quilombo dos Palmares, no sentido de ampliar as práticas de Educação Popular e pela Democratização da Comunicação. Dessa forma, realizando narrativas que integrem estas lutas nestas redes de resistência. 


Caranguejo Uçá é Arte e Solidariedade!


Imagens: Fran Silva, Hamilton Tenório e Rodrigo Lima