11 outubro 2017

Documentário No Rio e no Mar é lançado em Pernambuco




Exibido na 20ª edição do projeto “De Frente para a Costa”, iniciativa da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no Recife, o documentário “No Rio e no Mar” resgata a luta dos pescadores e pescadoras artesanais da Ilha da Maré (BA), contra a poluição e danos à saúde causados pelos empreendimentos da Petrobrás e do Porto de Aratu, na região. A ilha fica localizada na Bahia de Todos os Santos e pertence ao município de Salvador. Em torno de 50 pesquisadores, estudantes e membros de organizações não governamentais prestigiaram o evento, realizado no último dia 06 de setembro, na Fundaj.


A mesa de debate foi composta pela líder do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil (MPP), Marizelha Lopes (Nega), que veio da Ilha da Maré especialmente para o lançamento do documentário produzido pela Anistia da Holanda; o pesquisador da Fundaj, Tarcício Quinamo; a educadora social do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), Laurineide Santana, e o professor e pesquisador da Universidade Federal da Bahia, Miguel Accioly.

Marizelha falou sobre as dificuldades enfrentadas pela Ilha da Maré, que sofre com os problemas ambientais e de saúde provocados pelas indústrias na região. “A pesca artesanal é pouco respeitada em nosso país. Fomos abandonados pelo poder público. Somos mais de 10 mil moradores, vivemos exclusivamente da pesca e do artesanato e infelizmente estamos sendo exterminados. Esse documentário fala um pouco da nossa situação. A gente tem uma diversidade muito grande e ainda somos uma ilha muito bonita, apesar dos empreendimentos”, relatou.
Foram feitas ainda denúncias sobre o modelo de desenvolvimento prejudicial à saúde e ao meio ambiente, que destrói e desagrega as comunidades tradicionais. “Essa poluição ameaça a vida e os saberes populares da nossa população. A gente tem consciência que está morrendo, mas a gente vai continuar denunciando. Os órgãos ambientais, lamentavelmente, fecham os olhos para a poluição ambiental, especialmente no Nordeste", denunciou Marizelha.




POLUENTES - O professor Accioly, por sua vez, explicou que as quase 10 mil pessoas que vivem na ilha são invisibilizadas pelo poder público.  Segundo o pesquisador, a própria prefeitura desconhece a comunidade e não disponibiliza educação e saúde que condigam com suas obrigações junto aos moradores do local. “Inclusive, as 11 comunidades distribuídas em torno da ilha são atendidas pela escola e pelo posto de saúde do município vizinho”, apontou.
Para Accioly, é inviável e incompreensível o investimento do Estado nesses empreendimentos na região. “Colocaram as indústrias todas lá e, por conta disso, também há uma grande concentração de poluentes, como metais, chumbo, mercúrio. Além disso, petroquímicos, amônia, fertilizantes, poeira de soja, de trigo e de siderúrgica. É uma gama de poluentes que vêm pela água e pelo ar prejudicando a vida e saúde dos moradores”, informou.

MODELO – Laurineide Santana, do CPP, disse ainda que o problema enfrentado pela Ilha da Maré não é um problema de uma comunidade, mas das comunidades e dos povos tradicionais no Brasil. “Esse trabalho que a Ilha está fazendo é abrir os olhos e os ouvidos para a gente lutar. A gente percebe que além do problema ambiental, é um problema social, é um problema econômico, é um problema da sociedade. Esse modelo de desenvolvimento imposto no Brasil é bom para quem? Ele traz morte, doença, diminuição da produção, destruição do ambiente. Então, esse modelo não serve mais”, disse.

Por sua vez, o pesquisador da Fundaj, Tarcício Quinamo, destacou que o modelo predatório e excludente adotado pelo Brasil penaliza as populações pobres, onde prevalecem as pessoas negas. “É uma realidade que está aí, pseudocolocada e distorcida pelos grandes meios de comunicação. Os pescadores artesanais, os índios são cuidadores dessas áreas, uma área que diz respeito a todos nós. Quando esses povos sofrem, a gente está pagando por isso. Isso é o que precisamos rever nesse modelo de desenvolvimento, temos que trazer para a discussão. É um compromisso nosso divulgar para que as pessoas reflitam sobre essa realidade”, alertou.




Matéria: Assessoria de Comunicação do Conselho Pastoral dos Pescadores

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